quarta-feira, 30 de março de 2011

Notas da primeira aula: O estudo dos signos e a lógica da cultura

Queridos,

Como prometido, seguem abaixo as notas de minhas duas últimas exposições, sobre o tema "O Estudo dos Signos e a Lógica da Cultura". Leiam com atenção e tragam suas questões para as próximas aulas, se for o caso.

Ad,

Benjamim


Fundamentos Linguísticos da Comunicação (GEC 043)
Aula no 1 (28 e 30/03/2011)

1.1.O estudo dos signos e a “lógica da cultura”




Wittgenstein, Derek Jarman (1993): sequência sobre abacaxis, cães e leões.

1.     Nessa passagem em que Wittgenstein fala a Russell e a seus alunos sobre leões (os que podem falar), cães (aqueles que aguardam a chegada de seus donos) e abacaxis (apenas os que são agradáveis), se entrevê uma espécie de “horizonte antropológico” das teorias da significação. O que isto quer dizer? Entre outras coisas, isto significa que a suposta “verdade” que fazemos inerir a nossos juízos sobre matérias de fato (ou mesmo àqueles de gosto, como os que exprimem nossa experiência sensível) não é informada por nenhum aspecto intrínseco aos juízos ou ao mundo (não é propriedade das coisas, tampouco característica de uma maneira de dizer coisas), mas sim relativa aos “modos de vida” (os alemães chamam a isto de weltanschaung) nos quais nos inscrevemos praticamente.

2.     Em outro momento do mesmo filme, Wittgenstein esclarece que a relação entre os diferentes modos de falarmos da realidade (os diferentes “jogos de linguagem” que praticamos) não é assunto que possa ser regulado teoricamente, a priori, mas apenas no contexto prático de nossas conversações ordinárias.

3.     A propósito destes exemplos, procuremos nos localizar melhor sobre as relações entre este suposto “horizonte antropológico” das significações e as questões mais clássicas das humanidades, no século passado, para identificarmos o fortíssimo acento que estas questões tiveram sobre as ciências humanas e sociais do século passado. Pois se houve algum lugar onde predominou a idéia de que a realidade é um constructo simbólico relativamente independente de critérios físicos para a existência, foi justamente nas ciências humanas da segunda metade do século XX: não por acaso, boa parte das correntes teóricas que predominaram nesse período neste campo, se deixaram informar por instrumentais de análise e problemas herdados das ciências da linguagem, em geral, e dos modernos ramos da lingüística, em particular.

4.     Em primeiro lugar, uma abordagem semiótica da cultura não vislumbra este conceito apenas como o conjunto dos “bens” concretos que uma sociedade ou grupo humano reconhece com seu acervo (como parte da tradição), tomando-os como objetos, artefatos, instrumentos ou obras: para além destes, ela reconhece sobretudo uma ordem (ou ainda um sistema) de “valores” compartilhados na mesma lógica humana que gerou cada uma destas coisas e que finalmente lhes confere este tipo específico de estatuto, enquanto “bens culturais”. A semiótica seria então o ramo de uma “ciência da cultura” que procura entender os processos culturais, na perspectiva de uma lógica da produção e circulação dos signos, dado o modo como estes operam concretamente na comunicação sobre o que quer que seja e reconhecido o valor específico desta operação (como veremos mais adiante, sua significação).

5.     Pois bem, nas definições mais recorrentes de verbetes de dicionários e enciclopédias vernaculares sobre “Semiótica” ou “Semiologia”, encontraremos igualmente essa interessante associação do estudo dos signos (e dos gêneros de ação que lhe são próprios) com os fundamentos de nossa experiência cultural: assumindo que os signos pelos quais expressamos estados de coisas (exteriores ou interiores) necessitem ser compreendidos na comunicação que podem ou pretendem instaurar, fica assim mais evidente que a constituição da experiência cultural na qual esta partilha é possível reclama o lugar dos signos como sendo o eixo em torno do qual os processos e fenômenos culturais se estruturam. Vejamos algumas destas definições:

        Semiologia - “Estudo do desenvolvimento e do papel dos signos culturais na vida dos grupos humanos; teoria geral dos signos (nesta acepção, usa-se alternativamente ‘semiótica’); parte da medicina que se ocupa dos sinais e sintomas das doenças.”
Semiótica – “Ciência dos modos de produção, funcionamento e recepção de diferentes sistemas de signos de comunicação entre indivíduos e coletividades; semiologia/esta ciência, aplicada ao domínio particular da comunicação/ na lógica matemática, teoria dos símbolos.”
In: Enciclopédia e Dicionário Ilustrado Koogan/Houaiss. Rio: Delta (1988): pp. 1472.

        Semiologia – “Ciência geral dos signos, segundo Ferdinand de Saussure (...), que estuda todos os fenômenos culturais, como se fossem sistemas de signos, i.e., sistemas de significação. Em oposição à Lingüística, que se restringe ao estudo dos signos lingüísticos, ou seja, da linguagem, a semiologia tem por objeto qualquer sistema de signos (imagens, gestos, vestuário, ritos, etc.); semiótica; estudo e descrição dos sinais e sintomas de uma doença; semiótica (nesta acepção, sintomatologia).”
Semiótica – “do grego Shmeiwtikh (‘Semeiotiké’, tekhne ou arte dos sinais). Denominação utilizada principalmente pelos autores norte-americanos, para a ciência geral dos signos; semiologia; semasiologia: arte de comandar manobras militares por meio de sinais, e não da voz.”
In: Novo Aurélio Século XXI. Rio: Nova Fronteira (1999): pp 1834.

        Semiologia – “Para Ferdinand de Saussure, ciência geral que tem por objeto todos os sistemas de signos (incluindo os ritos e costumes) e todos os sistemas de comunicação vigentes na sociedade, sendo a lingüística científica seu ramo mais proeminente; para Luis Prieto, estudo de todos os sistemas de representação que têm a comunicação como função, privilegiando o funcionamento dos sistemas de signos não-linguísticos (numeração de ruas, quartos de hotel, códigos navais, etc.); para Roland Barthes, estudo das significações que podem ser atribuídas aos fatos da vida social concebidos como sistemas de significação: imagens, sons, gestos, sons melódicos, elementos rituais, protocolos, sistemas de parentesco, mitos, etc.”
Semiótica – “Para Charles S. Peirce, teoria geral das representações, que leva em conta os signos sob todas as formas e manifestações que assumem (lingüísticas ou não), enfatizando especialmente a propriedade de convertibilidade recíproca entre os sistemas significantes que integram”
In: Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Rio: Objetiva (2005): pp. 2543.

6.     O que se pode destacar destas passagens de definições de semiótica? Algumas noções são recorrentes em todas estas definições:
a. “signos” e “significação”;
b. “sistemas de signos” e “sistemas de significação”;
c. “signos culturais” e “fenômenos culturais”;

Por outro lado, o caráter de oposição, complementaridade e/ou contigüidade que define certos aspectos do objeto de estudos dessas artes ou ciências:
a. “sinais”, “signos” e “significação”
b. “linguagem”, “gestos”, “imagens”, “vestuário” e “ritos”

Finalmente, certos outros termos, sem serem recorrentes, chamam-nos a atenção pelo modo como se articulam, mais ou menos subentendidos nas duas ordens de definições:
a. a relação entre “sistemas de signos” e “modos de produção” culturais;
b. o caráter “científico” (de “estudos”) ou “técnico” (“artístico”) da competência semiótica;

7.     Exploremos, então, cada um destes pontos em separado, começando pelo ultimo grupo de noções: nos dois sub-itens que a constituem, encontramos, em primeiro lugar, a definição da semiótica enquanto técnica ou como ciência, associada à compreensão e à operação disciplinada com signos e, em segundo lugar, a implicação de que a competência neste campo tem um fundamento ligado aos modos de inserção em contextos culturais da experiência societária. Se voltarmos a alguns dos itens da leitura nesta unidade, veremos o quanto eles nos auxiliam a confirmar estes modos usuais de definir a pertinência dos saberes semióticos, neste seu especial aspecto.

8.     Assim sendo, em várias de suas definições, como “semiótica” ou como “semiologia”, encontramos recorrentemente a menção a noções tais como a de “signo”, “significação” e os “sistemas” que os implicam como objetos de estudo, de um lado; no outro ponto do espectro, temos a noção de que a “cultura” é o lugar ou instância privilegiada na qual a funcionalidade dos fenômenos associados aos usos dos signos (sua expressão e compreensão, em contextos necessariamente sociais e humanos) se efetiva.

9.     Melhor ainda será dizer que é a noção mesma de um “sistema de signos” que se lança adiante, numa reflexão mais afeita à idéia de que a cultura seja definida como um fenômeno apto a um estudo mais sistemático: as teorias semióticas parecem oferecer a uma ciência da cultura os elementos para pensar seus processos e fenômenos, a partir de um grau mais concreto de sua manifestação (veremos mais adiante, definidos como fenômenos de comunicação”). Não é por outra razão, portanto, que Umberto Eco finaliza a introdução de seu Trattato, a partir da definição do umbral superior do exame de todo e qualquer fenômeno de significação e/ou comunicação, caracterizando a cultura em sua dimensão comunicacional.

“Nos níveis mais complexos, temos a TIPOLOGIA DAS CULTURAS, onde a semiótica desemboca na antropologia cultural e contempla os mesmos comportamentos sociais, os mitos, os ritos, as crenças, as subdivisões do universo como elementos de um vasto sistema de significação que faculta a comunicação social, a ordenação das ideologias, o reconhecimento e oposição entre grupos, etc. Enfim, o campo semiótico invade territórios tradicionalmente ocupados por outras disciplinas como a ESTÉTICA  ou o estudo das COMUNICAÇÕES DE MASSA.”. Eco, U. “Introdução: rumo a uma lógica da cultura”: p. 9.

10.  De um ponto de vista mais histórico e menos estrutural, Iuri Lotman explora um outro aspecto da assimilação dos estudos humanísticos, a partir de um “faro” semiótico: ao considerar a “dupla função” dos objetos culturais (o prático e o simbólico), destaca-se, sob este ultimo aspecto, a conexão entre os fenômenos culturais e sua dimensão informacional (termo que, neste contexto, pode ser tomado como correlato da dimensão comunicacional dos fatos humanos, em Eco).

“Deste modo, todo o material da cultura pode ser examinado sob o ponto de vista de uma determinada informação de conteúdo e sob o ponto de vista de códigos sociais, os quais permitem expressar esta informação por meio de determinados signos e torná-la patromônio destas ou aquelas coletividades humanas”. Lotman, I. “Sobre o problema da tipologia da cultura”: pp. 32,33.

11.  Imaginando que estas recorrências de definições e de termos tenham algum significado teórico (isto é, nos auxiliem a pensar as relações entre o que é assunto de uma teoria dos signos e o objeto de uma teoria da cultura), comecemos pelo final destas alegações sobre a localização cultural mesma dos fatos semiósicos: nosso ponto de partida é a idéia, expressa por algumas definições, de que a “semiologia estuda os fenômenos culturais” ou ainda, “...o desenvolvimento e o papel dos signos culturais na vida dos grupos humanos”.

12.  Nestas afirmações, a relação entre os fatos culturais e a ordem das significações está decerto postulada (o que quer que nos concirna teoricamente acerca dos signos é, assim sendo, da ordem da cultura), mas não argumentada suficientemente: assim, sabemos que os signos dependem de uma convenção para funcionar e que esta última é genericamente gestada na experiência culturalmente partilhada dos grupos humanos. O que nos resta especificar em mais detalhes é precisamente a natureza semiosicamente estruturada dos processos e fenômeno culturais (assim como a natureza culturalizada daquilo que deve ser assumido enquanto fenômeno de comunicação, para ser enfim abordado numa perspectiva semiótica): estes assuntos serão o tópico de nossas próximas explorações, mais adiante.

Referências Bibliográficas:
Eco, Umberto. “Introdução: rumo a uma lógica da cultura”. In: Tratado Geral de Semiótica;
Lotman, Iuri. “Sobre o problema da tipologia da cultura”. In: Semiótica Russa.

Próximas Leituras:
Eco, Umberto. “Introdução: rumo a uma lógica da cultura”. In: Tratado Geral de Semiótica;
Kristeva, Julia. “A semiótica”. In: História da Linguagem.

terça-feira, 22 de março de 2011

Notas da aula introdutória

Queridos,

Seguem logo abaixo as anotações referentes à exposição inicial da disciplina. Devo retomar alguns de seus pontos, antes de começar a fazer o percurso sobre a primeira unidade do curso, a das relações entre o estudo dos signos e a lógica da cultura. De todo modo, ao fim destas notas, estão indicados os itens bibliográficos deste início de percurso, estando os textos desde já disponíveis na pasta da disciplina, no setor de xerox.

Divirtam-se,

Benjamim


Fundamentos Linguísticos da Comunicação (GEC 043)
Aula no 0 (21/03/2011)

Apresentação de um possível roteiro da exposição do curso:

1a aula: expor o programa e introduzir os conteúdos da disciplina, tudo isto a partir de uma série de questões a ser respondidas:

1. a Semiótica é, estritamente falando, uma teoria da comunicação?

O conceito de comunicação decerto importa para as teorias semióticas, mas podemos dizer que seu valor é menos importante para as teorias da significação do que se costuma supor. Nestes termos, devemos ter cuidado em raciocinar sobre a pertinência das teorias semióticas, condicionando-a a uma hipotética assimilação de seus conceitos e objetos ao universo das teorias da comunicação. Em termos, a semiótica é uma disciplina da compreensão e da interpretação, que são fenômenos subjacentes à comunicação.

2. se este não é o caso, qual o propósito de uma teoria geral da significação no contexto dos estudos sobre os processos e fenômenos da comunicação ?

se vamos inquirir sobre as relações entre significação e comunicação, devemos, em primeiro lugar, destacar o lugar bem específico que o conceito de interpretação tem  para as teorias semióticas, uma vez que as definimos como sendo eminentemente disciplinas da interpretação e da compreensão. neste caso em especial, o problema destas teorias (ou ao menos de certas de suas correntes) diz mais respeito às possíveis condições sobre as quais assumimos a pertinência (em termos mais precisos, o sentido) de certos fenômenos e objetos do entendimento, do que o fato de que eles podem ser eventualmente partilhados ou propriamente comunicados. veremos mais adiante, por outro lado, que as teorias semióticas estão bastante concernidas com a questão da expressividade que se liga a nossos modos de compreensão (quem sabe neste ponto, se deslindam os pontos de conexão entre a gênese do sentido e sua fundamental comunicabilidade?).

3. quais são os pontos comuns entre os vários fenômenos identificados com o interesse geral das teorias semióticas?

evidência da admissão anterior decorre precisamente do exame dos fenômenos aos quais as teorias semióticas historicamente se endereçaram, ao fixar seus objetos de interesse iniciais: assim sendo, nos sintomas médicos, na estrutura lógico-inferencial do pensamento, na manifestação dos costumes culturais, em todos estes casos, a orientação semiótica revela em cada um destes fenômenos uma estrutura subjacente de sentido que é relativamente independente do (ou, numa hipótese mais discutível, transcendente ao) conceito de comunicação, ao menos aquele com o qual operamos usualmente (em geral, pensamos aqui num paradigma informacional destas teorias).

4. por onde, então, recobrar nas teorias semióticas a dimensão comunicacional de seu objeto de estudos?

como já sugerimos um pouco mais acima, um modo possível de dimensionar a pertinência das teorias semióticas para a comunicação, é o de colocar a questão do necessário compartilhamento do sentido interpretativo como uma componente essencial de quaisquer de nossos modos de compreender a realidade. assim definida a pertinência dos saberes semióticos (pelo viés das mútuas implicações entre significação, compreensão e interpretação), é necessário que vinculemos a realidade do sentido com sua essencial comunicabilidade, com as necessárias partilha e expressividade que marcam todo e qualquer ato de compreensão de nossa parte (somente tem significação aquilo que pode ser comumente partilhado entre sujeitos através de uma expressão, seja de que ordem esta for, mas necessariamente manifesta como bem coletivo, em seus principais aspectos).

5. a partir de onde devemos começar a nos perguntar sobre aquilo que é da ordem do sentido?

se nos perguntarmos sobre o que origina a pergunta sobre os poderes da significação e da interpretação, na ordem dos regimes de nosso entendimento do mundo (os clássicos chamam a este problema os “fundamentos do conhecimento empírico”), decerto temos que nos restituir a uma das perguntas mais importantes e originárias da história do pensamento filosófico, e introduzir neste mesmo contexto, o valor próprio de uma perspectiva semiótica para esta questão; por razões que exibiremos com mais detalhes imediatamente adiante, propomos que a “questão sobre o ser” é um destes problemas fundamentais que lançam a interrogação filosófica a um encontro com o problema da significação e da compreensão.

6. como resumir o percurso das exposições deste programa? 

se pudéssemos oferecer as linhas gerais daquilo que se pretende demonstrar no decorrer destas exposições, diria que elas se revolveriam em torno dos seguintes pontos:

1.    destacar as relações pelas quais o problema da significação se restitui à dimensão potencialmente comunicável da compreensão: examinar, neste quadro, como se relacionam as condições interpretativas da compreensão e o aspectos discursivamente organizados dos objetos do entendimento;
2.    estabelecer as relações mais próximas entre as grandes linhas das teorias da significação e os problemas de uma ciência dos processos culturais: no contexto da virada conceitual que as teorias da linguagem propiciaram a certos ramos das humanidades, avaliar o papel das teorias da interpretação para o exame dos fenômenos e processos comunicacionais;
3.    identificar os conceitos fundamentais das teorias semióticas (signo, significado, sentido e significação, semântica e pragmática, símbolo e metáfora, inter alia) e os modos como eles se articulam, dadas as concepções das várias escolas desta disciplina sobre as estrutuas elementares de nossa compreensão do mundo e das expressões textuais através das quais ela é representada e comunicada

Próximas leituras:
Eco, Umberto. “Introdução: rumo a uma lógica da cultura”. In: Tratado Geral de Semiótica;
Lotman, Iuri. “Sobre o problema da tipologia da cultura”. In: Semiótica Russa;
Kristeva, Julia. “A semiótica”. In: História da Linguagem.

domingo, 20 de março de 2011

Textos para leitura na pasta do xerox

queridos,


os primeiros textos da disciplina já estão disponíveis para consulta de todos, na pasta do xerox do iacs: são os seguintes títulos:


eco, umberto. "introdução: rumo a uma lógica da cultura". in: tratado geral de semiótica;
kristeva, julia. "a semiótica". in: história da linguagem;
lotman, iuri. "sobre o problema da tipologia da cultura". in semiótica russa.


estes textos serão a base das exposições nas próximas sessões da disciplina. sua leitura é fundamental e recomenda-se o trabalho do fichamento sobre os mesmos.


nos vemos na segunda.


ad,


benjamim

terça-feira, 15 de março de 2011

Programa da Disciplina-2011.1 - Favor ler com atenção!!!!!

UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE
INSTITUTO DE ARTES E COMUNICAÇÃO SOCIAL
DEPARTAMENTO DE ESTUDOS CULTURAIS E MÍDIA



Disciplina: Fundamentos Linguísticos da Comunicação (GEC 043)
Horário: 2as e 4as, das 14 às 16:00
Local: Sala - IACS



Ementário: As teorias de matriz lingüística e sua influência sobre os estudos de comunicação. Problemas fundamentais da lingüística de Saussure: a natureza social da linguagem; linguagem e inconsciente; língua e fala. A influência da lingüística saussureana nas Ciências Sociais: o estruturalismo. Do estudo da linguagem ao estudo dos signos: a semiologia.



Apresentação: Há uma matriz genérica sob a qual os saberes que tratam da dimensão simbólica do entendimento humano foram assimiladas aos estudos sobre fenômenos e processos comunicacionais: a tal título, disciplinas chamadas de semiótica ou semiologia figuram nos cursos de comunicação social em geral como sendo os espaços nos quais se privilegia uma discussão sobre os processos de estruturação simbólica da realidade e os modos como estes podem auxiliar as teorias da comunicação; em outros casos, define-se inclusive que estas disciplinas estudam os processos de comunicação como se fossem fenômenos de linguagem.



No entanto, dois equívocos emergem desta aparente naturalidade com a qual as disciplinas do signo são incorporadas ao universo comunicacional: em primeiro lugar, a idéia mesma de que as teorias semióticas sejam identificadas com alguma corrente das teorias da comunicação; como veremos com mais vagar no início mesmo de nosso percurso esta ilusão sobre o lugar das teorias da significação em nosso campo é o efeito de um percurso histórico no qual certas tradições das ciências sociais assimilaram os instrumentais, conceitos e métodos das modernas ciências da linguagem, para a compreensão de determinados fenômenos característicos das ciências humanas (o casamento e a transmissão do parentesco, os movimentos do inconsciente, as trocas simbólicas, os mitos).



Decorrência disto é que se perde de vista que a reflexão sobre nossos modos de compreender a realidade (e mesmo de inventá-la) decerto invoca um papel detido pelos signos, nesse mesmo contexto: o que não chega a implicar, contudo, que a semiótica seja definida como disciplina central ou régia na definição deste problema (o da compreensão e da produção da realidade). A origem histórica dos muitos vocábulos pelos quais se designou historicamente este tipo de saber (especialmente, no último século, como Semiótica e Semiologia) deixa-nos entrever uma extensa latitude de problemas alcançados por estas teorias: consideramos aqui casos tão afastados entre si como o do estudo dos sintomas clínicos, de um lado, do ordenamento simbólico das sociedades e das práticas humanas, de outro, ainda mais a interpretação de textos sagrados e, finalmente, a estruturação lógico-discursiva do pensamento.



Nestes termos, a caracterização de uma teoria geral da significação (é nestes termos, por exemplo, que Umberto Eco fala em vários de seus livros da possibilidade de uma Semiótica Geral) implicaria precisamente a hipotética unificação epistemológica de todo este imenso campo de discursos teóricos sobre os vários modos de abordar o fenômeno da significação: em todos eles, vislumbraríamos uma espécie de concepção sobre o caráter último de construtividade simbólica do mundo, e que seria a demarcação liminar de toda nossa experiência da realidade, no modo como a interpretamos, nos exprimimos sobre ela, a representamos pictoricamente, ou mesmo como simplesmente a sentimos e a percebemos.



Isto posto, notamos que as disciplinas da comunicação acolheram, de maneira praticamente integral, esta vocação fundacional dos saberes semióticos (a idéia de uma construtividade do mundo pelos signos), sem se aperceber daquilo que parecia mais apropriado a uma abordagem semiótica dos processos e estruturas expressivas mais próprios ao universo da comunicação mediática. Assim sendo, reconhecemos tranquilamente as linhagens históricas, mais ligadas ao esforço de unificação das disciplinas do sentido e da significação, ao mesmo tempo em que ressaltamos os aspectos desta constituição teórica que nos afetam mais de perto, no campo da investigação comunicacional.



Entre tantos outros casos passíveis de relato e retrospectiva, os esforços de Roland Barthes e de Umberto Eco neste sentido da uniformização teórica e metodológica das disciplinas semióticas (na sua proximidade maior ou menor com o universo da comunicação) exemplificam a propriedade deste último ponto: de um lado, reconhecemos nestes dois autores as referências às fontes lingüísticas do problema da significação, na vertente do estruturalismo (em Barthes), assim como o encontro de questões de narrativa com os problemas das teorias da interpretação textual, das teorias da recepção e da filosofia da linguagem coeva (em Eco); notamos igualmente em ambos a inflexão que estas questões teóricas assumem, uma vez que o olhar desta análise se dobra sobre as estratégias discursivas e retóricas próprias (mas não exclusivas) à comunicação mediática.



Assim sendo, a introdução de um viés semiótico, no contexto histórico das disciplinas do sentido (gramática, semântica, sintaxe, morfologia, hermenêutica, poética, retórica, dentre tantas outras), exibe um diferencial que tem correlações bastante graves com a interrogação aos fenômenos e produtos que tipificam, por sua vez, uma cultura tão fortemente marcada pela influência dos meios de comunicação de escala massiva (sendo que as primeiras incursões de Barthes e Eco nos fornecerão as mais ricas pistas e conseqüências teóricas e analíticas para esta exploração).



Conteúdo Programático:



1. Introdução: Os Signos e a Lógica da Cultura: a “virada lingüística” nas ciências humanas



1.1. As matrizes semióticas de uma “lógica da cultura” (Eco, Lotman e Kristeva);



1.2. A Semiótica no contexto das disciplinas da comunicação:
a. O conceito semiótico de comunicação (Volli)
b. Das mitologias à ideologia como estratégia sígnica (Barthes);
c. A Semiótica como teoria das economias interpretativas (Eco).



2. Elementos de Semiótica: os fundamentos semiósicos da compreensão



2.1 Signo Semiológico/Signo Linguístico; Signo Semiótico/Signo Lógico:
a. O conceito semiótico de signo e a estrutura elementar da compreensão:
a.1. compreendendo relações entre fatos (signos e inferência);
a.2. compreendendo relações entre proposições (signos e textos)



b. As duas grandes linhas da concepção semiótica sobre os signos:
b1. signos e pensamento discurso (semiosis e logos, em Peirce);
b.2. signos e convenção social (o arbítrio da significação, em Saussure)



2.2. Veículos e fins da significação: significante, fundamento, significado, sentido e Pragmática:
a. Da confusão entre os signos e seus veículos: entre o significante e o fundamento:
a.1. a noção de veículo lógico da semiose: o fundamento (ground), em Peirce;
b.2.. a inevitável materialidade da significação: o significante, em Saussure.



b. Significado e metafísica da referência: signos e aquilo “que há” (Goodman, Quine e Eco);
b.1. o estatuto semiósico da realidade: que entidades são os significados?
b.2. sinal, sentido e referência, na lógica semântica de Frege;
b.3. as formas do conteúdo, na semântica estrutural (Hjelmslev/Greimas)



c. De que modo significamos: os modelos semânticos, em Eco:
c.1. sentido direto e o modelo semântico do dicionário;
c.2. pragmática e semântica textuais e o modelo da enciclopédia.



Procedimentos Didáticos: O curso será estruturado inteiramente a partir das exposições do docente, cujas notas de apoio estarão disponíveis aos alunos ao final de cada aula para consulta de todos, na pasta da disciplina no setor do xerox do Instituto ou preferencialmente no blog da disciplina (www.fundamentoslinguisticosdacomunicacao.blogspot.com). Para o bom acompanhamento das aulas, é mais que recomendável que a leitura dos itens bibliográficos de base esteja em dia, antes de cada exposição temática.



Formas e Critérios de Avaliação: A avaliação de desempenho da disciplina compreenderá vários itens para seu exame, por parte do docente, divididos da seguinte maneira:



1. 50% da nota final da disciplina será atribuída, através de uma avaliação escrita, versando sobre as unidades do programa, ao final do semestre (as formas específicas deste exame serão objetos de uma exposição detalhada, no momento da apresentação deste programa, no início do semestre);



2. 40% da nota final será atribuída através de avaliações parciais, em forma escrita, sobre temas a serem definidos no decorrer da disciplina (as formas específicas deste exame serão objetos de uma exposição detalhada, no momento da apresentação deste programa, no início do semestre);



3. 10% da nota final da disciplina será atribuída por critérios de participação e de engajamento, sob várias formas de aferição (assiduidade, pontualidade, envolvimento em sala de aula, inicitiva, atenção às exposições, respostas às questões propostas sobre os tópicos da disciplina durante o semestre, entrega dos fichamentos dos textos de base, dentre outros).



Bibliografia:



AUSTIN, John Langshaw. Quando Dizer é Fazer: linguagem e ação (trad. ). Porto Alegre: Artes Médicas (1990);
BARTHES, Roland. “A retórica da imagem”. In: O Óbvio e o Obtuso (trad. Lea Novaes). Rio: Nova Fronteira (1990): pp. 27,44;
BARTHES, Roland. Elementos de Semiologia (trad. José Paulo Paes e Izidoro Blikstein). São Paulo: Cultrix (1988);
COLLINI, Stephan. “Introdução: interpretação terminável e interminável”. In: Eco, Umberto. Interpretação e Superinterpretação (trad. Mônica Stahel). São Paulo: Martins Fontes (2005): pp. 1,26;
ECO, Umberto. “Introdução: rumo a uma lógica da cultura”. In: Tratado Geral de Semiótica (trad. Antonio de Paula Dainesi e Gilson César Cardoso de Sousa). São Paulo: Perspectiva (1997): pp. 1,38;
ECO, Umberto. “Os códigos visuais”. In: A Estrutura Ausente (trad. Pérola de Carvalho). São Paulo: Perspectiva (1976): pp. 98,121;
ECO, Umberto. “Premissa”. In: O Signo ( ). Lisboa: Presença ( ): pp.
ECO, Umberto. Semiótica e Filosofia da Linguagem (trad. Annamaria Fabris). São Paulo: Ática (1991);
FREGE, Gottlöb. “Sobre sentido e referência”. In: Lógica e Filosofia da Linguagem (trad. Paulo Alcoforado). São Paulo: Cultrix (1978): pp. 59,86;
GUINZBURG, Carlo. “Sinais: raízes de um paradigma inidiciário”. In: Mitos, Emblemas, Sinais: morfologia e História (trad. Federico Carotti). São Paulo. Cia das Letras (1990): pp. 143,180;
GOODMAN, Nelson. “Palavras, obras, mundos”. In: Modos de Fazer Mundos (trad. Antonio Duarte). Porto: Asa (1995): pp. 37,61;
HJELMSLEV, Louis Trolle. “Signos e Figuras” e “Expressão e Conteúdo”. In: Prolegômenos a uma Teoria da Linguagem (trad. José Teixeira Coelho Neto). São Paulo: Perspectiva (1975): pp. 47,65;
JAKOBSON, Roman. “Dois aspectos da linguagem e dois tipos de afasia”. In: Lingüística e Comunicação (trad. Izidoro Blikstein e José Paulo Paes). São Paulo: Cultrix (1991): pp. 34,62;
JAKOBSON, Roman. "Olhar de relance sobre o desenvolvimento da Semiótica" (trad. Benjamim Picado). In: Galáxia. 19 (2010): pp. 60,76;
KRISTEVA, Julia. “A Semiótica”. In: História da Linguagem (trad. Maria Margarida Barahona). Lisboa: edições 70 (1974): pp. 409,448;
PEIRCE, Charles Sanders. “Questões sobre certas faculdades reivindicadas pelo homem” e "Algumas consequências de quatro incapacidades". In: Semiótica (trad. José Teixeira Coelho Neto). São Paulo: Perspectiva (1990): pp. 241,282;
QUINE, W.v.O. “Sobre o que há”. In: Existência e Linguagem: ensaios de metafísica analítica (trad. João Branquinho). Lisboa: Presença (1990): pp. 21, 39;
RODRIGUES, Adriano Duarte. “Prefácio”. In: As Dimensões da Pragmática da Comunicação. Rio: Diadorim (1995): pp. 9,22;
SAUSSURE, Ferdinand de. “Introdução”. In: Curso de Linguística Geral (trad. José Paulo Paes e Izidoro Blikstein. São Paulo: Cultrix (2000): pp. 7, 48;
SAUSSURE, Ferdinand de. “Princípios Gerais”. In: Curso de Linguística Geral (trad. José Paulo Paes e Izidoro Blikstein). São Paulo: Cultrix (2000): pp. 79, 116;
SEARLE, John. “Expressões, significações e actos de fala”. In: Os Actos de Fala (trad. Carlos Vogt). Lisboa: Almeidina (1981): pp. 33,72.
SILVA FILHO, Waldomiro. “O conceito de interpretação em Umberto Eco”. In: Textos de Cultura e Comunicação. 28 (1993): pp.
VOLLI, Ugo. Manual de Semiótica. São Paulo: Loyola ( ).