terça-feira, 22 de março de 2011

Notas da aula introdutória

Queridos,

Seguem logo abaixo as anotações referentes à exposição inicial da disciplina. Devo retomar alguns de seus pontos, antes de começar a fazer o percurso sobre a primeira unidade do curso, a das relações entre o estudo dos signos e a lógica da cultura. De todo modo, ao fim destas notas, estão indicados os itens bibliográficos deste início de percurso, estando os textos desde já disponíveis na pasta da disciplina, no setor de xerox.

Divirtam-se,

Benjamim


Fundamentos Linguísticos da Comunicação (GEC 043)
Aula no 0 (21/03/2011)

Apresentação de um possível roteiro da exposição do curso:

1a aula: expor o programa e introduzir os conteúdos da disciplina, tudo isto a partir de uma série de questões a ser respondidas:

1. a Semiótica é, estritamente falando, uma teoria da comunicação?

O conceito de comunicação decerto importa para as teorias semióticas, mas podemos dizer que seu valor é menos importante para as teorias da significação do que se costuma supor. Nestes termos, devemos ter cuidado em raciocinar sobre a pertinência das teorias semióticas, condicionando-a a uma hipotética assimilação de seus conceitos e objetos ao universo das teorias da comunicação. Em termos, a semiótica é uma disciplina da compreensão e da interpretação, que são fenômenos subjacentes à comunicação.

2. se este não é o caso, qual o propósito de uma teoria geral da significação no contexto dos estudos sobre os processos e fenômenos da comunicação ?

se vamos inquirir sobre as relações entre significação e comunicação, devemos, em primeiro lugar, destacar o lugar bem específico que o conceito de interpretação tem  para as teorias semióticas, uma vez que as definimos como sendo eminentemente disciplinas da interpretação e da compreensão. neste caso em especial, o problema destas teorias (ou ao menos de certas de suas correntes) diz mais respeito às possíveis condições sobre as quais assumimos a pertinência (em termos mais precisos, o sentido) de certos fenômenos e objetos do entendimento, do que o fato de que eles podem ser eventualmente partilhados ou propriamente comunicados. veremos mais adiante, por outro lado, que as teorias semióticas estão bastante concernidas com a questão da expressividade que se liga a nossos modos de compreensão (quem sabe neste ponto, se deslindam os pontos de conexão entre a gênese do sentido e sua fundamental comunicabilidade?).

3. quais são os pontos comuns entre os vários fenômenos identificados com o interesse geral das teorias semióticas?

evidência da admissão anterior decorre precisamente do exame dos fenômenos aos quais as teorias semióticas historicamente se endereçaram, ao fixar seus objetos de interesse iniciais: assim sendo, nos sintomas médicos, na estrutura lógico-inferencial do pensamento, na manifestação dos costumes culturais, em todos estes casos, a orientação semiótica revela em cada um destes fenômenos uma estrutura subjacente de sentido que é relativamente independente do (ou, numa hipótese mais discutível, transcendente ao) conceito de comunicação, ao menos aquele com o qual operamos usualmente (em geral, pensamos aqui num paradigma informacional destas teorias).

4. por onde, então, recobrar nas teorias semióticas a dimensão comunicacional de seu objeto de estudos?

como já sugerimos um pouco mais acima, um modo possível de dimensionar a pertinência das teorias semióticas para a comunicação, é o de colocar a questão do necessário compartilhamento do sentido interpretativo como uma componente essencial de quaisquer de nossos modos de compreender a realidade. assim definida a pertinência dos saberes semióticos (pelo viés das mútuas implicações entre significação, compreensão e interpretação), é necessário que vinculemos a realidade do sentido com sua essencial comunicabilidade, com as necessárias partilha e expressividade que marcam todo e qualquer ato de compreensão de nossa parte (somente tem significação aquilo que pode ser comumente partilhado entre sujeitos através de uma expressão, seja de que ordem esta for, mas necessariamente manifesta como bem coletivo, em seus principais aspectos).

5. a partir de onde devemos começar a nos perguntar sobre aquilo que é da ordem do sentido?

se nos perguntarmos sobre o que origina a pergunta sobre os poderes da significação e da interpretação, na ordem dos regimes de nosso entendimento do mundo (os clássicos chamam a este problema os “fundamentos do conhecimento empírico”), decerto temos que nos restituir a uma das perguntas mais importantes e originárias da história do pensamento filosófico, e introduzir neste mesmo contexto, o valor próprio de uma perspectiva semiótica para esta questão; por razões que exibiremos com mais detalhes imediatamente adiante, propomos que a “questão sobre o ser” é um destes problemas fundamentais que lançam a interrogação filosófica a um encontro com o problema da significação e da compreensão.

6. como resumir o percurso das exposições deste programa? 

se pudéssemos oferecer as linhas gerais daquilo que se pretende demonstrar no decorrer destas exposições, diria que elas se revolveriam em torno dos seguintes pontos:

1.    destacar as relações pelas quais o problema da significação se restitui à dimensão potencialmente comunicável da compreensão: examinar, neste quadro, como se relacionam as condições interpretativas da compreensão e o aspectos discursivamente organizados dos objetos do entendimento;
2.    estabelecer as relações mais próximas entre as grandes linhas das teorias da significação e os problemas de uma ciência dos processos culturais: no contexto da virada conceitual que as teorias da linguagem propiciaram a certos ramos das humanidades, avaliar o papel das teorias da interpretação para o exame dos fenômenos e processos comunicacionais;
3.    identificar os conceitos fundamentais das teorias semióticas (signo, significado, sentido e significação, semântica e pragmática, símbolo e metáfora, inter alia) e os modos como eles se articulam, dadas as concepções das várias escolas desta disciplina sobre as estrutuas elementares de nossa compreensão do mundo e das expressões textuais através das quais ela é representada e comunicada

Próximas leituras:
Eco, Umberto. “Introdução: rumo a uma lógica da cultura”. In: Tratado Geral de Semiótica;
Lotman, Iuri. “Sobre o problema da tipologia da cultura”. In: Semiótica Russa;
Kristeva, Julia. “A semiótica”. In: História da Linguagem.

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