quinta-feira, 19 de maio de 2011

Notas de Aula: significação e convencionalidade no signo linguístico, em Saussure

Queridos,


Em seguida, as notas da exposição de quarta-feira, sobre a concepção do signo em Saussure e suas relações com as vertentes linguísticas das teorias da significação. Ainda hoje, disponibilizarei as questões da 2a avaliação parcial da disciplina.


Ad,


Benjamim


Fundamentos Linguísticos da Comunicação – GEC 043
Aula no 3 (18/05/2011)
A Estrutura Elementar da Compreensão

3.4. Significação e Convenção: os princípios do signo linguístico, em Saussure

1. Concluindo nosso percurso pelas modalidades elementares da compreensão, encontramos finalmente uma linhagem das teorias da significação na qual o conceito mesmo de “signo” se caracteriza pela relação com os problemas que definem o regime do entendimento textual: pois bem, esta outra ordem de concepções na qual o signo aparece comprometido com a compreensão de sentenças e palavras é precisamente aquela na qual o interesse pelas teorias semióticas emergiu, pela primeira vez, como um traço característico de sua inclusão ao universo de problemas das ciências humanas e sociais (e, muito especialmente, no campo de estudos da comunicação).

2. Pois é precisamente, esta ordem das concepções sobre o signo semiológico (que culminam, por exemplo, no programa de pesquisas semiológica de Roland Barthes, no decorrer dos anos 60 do século passado) que pretendemos averiguar: não é o caso,, entretanto, de retomarmos as questões relativas à aplicação das categorias linguísticas ao universo de manifestações extra-linguísticas (aspecto que já tratamos em unidades anteriores), mas o de examinar as fontes deste discurso que toma os fatos semiológicos enquanto fatos de linguagem. Nestes termos, nos interessa avaliar a noção mesma de “signo”, trabalhada pela semiologia, a partir do modo como ela se define, relativamente às estruturas elementares da compreensão (em especial, a capacidade do entendimento textual).

3. Um aspecto que nos permitirá tratar, em separado, a definição do signo enquanto entidade ligada aos modos da expressão e da comrpeensão linguísticas, diz respeito ao estatuto epistemológico dos modos lógicos de implicação: em certos casos de inferência (por exemplo, “se usa um broche com foice e martelo, então comunista”), as condições de veridição de uma proposição não são dadas por fatos anteriores, mas firmadas por convenção, isto é, estabelecidas como um princípio coletivo (ou social) e arbitrário da significação. O valor de conhecimento que se estabelece para as proposições, nestes casos funciona como uma resultante de práticas sociais institucionalizadas, e deve ser explicado como um recurso dos signos a este modo de sua compreensão. Entender enunciados, neste caso, é entender um conjunto de signos que se opera a partir dos princípios de concatenação próprios às regras da linguagem. 

4. A Linguística estrutural de Saussure vai resolver esta questão do sistema arbitrário sob o qual as expressões linguísticas podem ser explicadas, a partir do modo como ele concebe o próprio signo linguístico, como constituinte de um sistema de valores: neste caso, temos que separar momentaneamente aquilo que é central para a linguística (o estudo da língua enquanto sistema de regras), daquilo que nos interessa agora, a saber, o modo como Saussure define a unidade minima do signo, enquanto parte deste sistema. Vejamos como estas questões se constroem, em seguida.

5. Assim sendo, a definição do signo linguistico está incluída na noção do “sistema”, através do qual Saussure concebe o objeto da linguística: sendo a língua definida como um “sistema de signos”, e não como um “conjunto” ou “enumeração” dos mesmos, a definição do signo linguístico, na perspectiva saussureana, não o introduz como uma unidade puramente individual, mas como o termo de uma função, união de certos aspectos dos processos de nomeação, que não podem ser separados, sem o sacrifício da idéia mesma de signo que funciona num sistema de valores: Saussure começa por identificar nas unidades que constituem a língua esta unidade entre um aspecto material (sonoro ou gráfico) e uma ordem de idéias (às quais associamos instantaneamente as emissões dotadas de certo grau de articulação).

·         Saussure, Ferdinand de. “Princípios Gerais”: p. 79,80.

6. É assim portanto que surge a idéia de uma definição do signo linguístico como união de uma porção acústica (um significante) e outra de suas partes como referido aos conceitos (o significado): elas se constituem na unidade do signo como partes mutuamente indissociáveis (a imagem saussureana é a do verso e reverso de uma mesma folha de papel).
7. Dois princípios regem fundamentalmente a constituição do signo enquanto tal unidade complexa: em primeiro lugar a arbitrariedade da relação entre significante e significado (isto é, o fato de que esta unidade não é explicável em termos de determinação de cada uma de suas partes, entre si, mas por um princípio convencionado, instituído no partilhamento social), fato este que explica o aspecto de instituição social, através do qual Saussure define a língua enquanto objeto de estudos da linguística;

8. em segundo lugar, a porção acústica do signo é determinada em seu valor, apenas no contexto de suas relações com outras porções de sons e de palavras (isto significa que o valor de uma unidade sonora é sempre o resultado de sua articulação com outras unidades do sistema inteiro, seja no plano da oposição presencial pela qual sons e palavras se articulam, seja no nível da associação própria à relação entre uma porção de sons e enunciados e seus correspondentes conteúdos), o que caracteriza a dimensão de sistema de signos que define a língua enquanto objeto.

9. A definição linguística do “signo”, assim como os princípios que regem sua articulação, no sistema de valores que é a língua, influenciou enormemente a constituição dos saberes semiológicos, como já vimos no passado, no modo como Roland Barthes restitui ao papel da descoberta da obra do lingüista genebrino a maior influência de seu turno semiológico, entre o fim dos anos 50 e o início dos 60; a incidência dos saberes lingüísticos no processo de constituição da semiologia enquanto ciência se justifica pelo modo como as ciências da linguagem permitem à nascente ciência geral dos signos a observação de uma série de fenômenos correlatos às linguagens naturais (mas não articulados a partir do mesmo tipo de matéria própria à língua), e que poderiam ser observados, a partir de princípios firmados pelo modo como Saussure definiu o objeto e as finalidades da própria linguística (o que não se deu de modo simples, mas por uma série de transposições e de especificações feitas à definição saussureana do signo linguístico).

10. Segundo Barthes, a importância do conceito linguístico de signo como unidade é o de definir para a própria linguística, (ou pelo menos para seus ramos que encontram-se concernidos com a dimensão participativa dos significados como entidades linguísticas) um princípio operatório que consiste em estabelecer que na linguagem encontramos, como estruturalmente comprometidas, duas espécies de unidades: primeiramente, as unidades significativas (os monemas ou, simplesmente, as palavras) que são portadoras de um sentido semântico simples, assim como as unidades distintivas (grosso modo, os fonemas ou sons da língua), que, segundo Barthes, participam da forma, mas não são necessariamente portadoras de sentido. A suposição de que o signo linguístico envolva uma diferenciação teórica, mas não fenomênica, entre significantes e significados aparelha a própria linguística a firmar o princípio da dupla articulação dos signos da língua.

Leitura Obrigatória:
SAUSSURE, Ferdinand de. "Natureza do signo linguístico" e “Imutabilidade e mutabilidade do signo”. In: Curso de Linguística Geral.

Próximas Leituras:
BARTHES, Roland. “Significante/significado”. In: Elementos de Semiologia;
ECO, Umberto. “Signo e Inferência”. In: Semiótica e Filosofia da Linguagem;
VOLLI, Ugo. “Signo”. In: Manual de Semiótica.

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